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Destaques

Apenas mais uma de amor...

Dia dos namorados no Brasil, eu ia fazer o clássico post nos stories do Instagram, mas lembrei da escritora que vive em mim (preciso falar disso um dia, já tive o sonho de ser escritora) e resolvi escrever sobre o meu roommate/ficante/namorado/noivo/marido, que a Canadá me deu. Eu e o Saulo nos conhecemos logo que cheguei no Canadá, um mês depois ficamos e quase sete anos depois, aqui estamos casados. Nossa relação nunca foi fácil ou um mar de rosas, a vida não é um conto de fadas como a Disney me contou.  Nós viemos de estados diferentes, de realidades diferentes, de criações diferentes, personalidades diferentes, gostos diferentes, etc, etc.  Mas por alguma razão, nossos caminhos se cruzaram. E que bom que se cruzaram! Porque no meio de todas essas diferenças, aprendemos um pouco do mundo um do outro e é bom demais dividir a vida com ele. Uma característica que eu sempre quis encontrar em alguém era parceira . Uma pessoa que embarcasse nas minhas ideias. Das mais normais, às...

You feel home, you don't have one...

Há algum tempo, eu li no Instagram a frase: "You feel home, you don't have one. Home is a feeling, not a place." Em tradução livre (feita por mim mesmo): "Você sente 'lar', você não tem um. Lar é um sentimento, não um lugar."

Não sei o autor, não dizia no post. Mas essa frase me marcou tanto que eu a coloquei num quadrinho na parede da minha casa.

Talvez para algumas pessoas, esse texto não vá fazer sentido nenhum. Porém, eu tenho certeza de que para quem mora fora, fará algum.

Sair do nosso país é uma escolha quase que diária e não é fácil. Eu digo "quase que diária" porque não é como apertar um botão e você decide começar do zero em algum lugar do mundo e pronto, está tudo resolvido.

Tem dias em que você está fazendo um passeio em um lugar maravilhoso, realizando um sonho, e toda a sua escolha faz muito sentido; você está muito feliz. Mas tem outros dias em que você está tão triste que só queria o colo da sua mãe e não pode ter.

Você cria novos laços no lugar onde está, e eles são realmente fortes. Mas tem dias em que você vê aquelas suas amizades de mais de vinte anos se encontrando para almoçar e você só queria estar lá com elas também.

A gente perde almoços, festas de aniversários, formaturas, casamentos, Natais. A gente perde as crianças crescendo, nossos amigos tendo filhos, nossos pais envelhecendo, nossa família aumentando. São incontáveis os momentos que a gente perde. E a vida não para, ela continua. Para quem ficou e para quem saiu. A correria do dia a dia engole o imigrante aqui e engole a família e amigos lá. E assim, às vezes, a gente perde as novidades que poderiam ser contadas pelo WhatsApp: o emprego novo daquele seu amigo, a mudança de apartamento de um primo, etc.

Morar fora nos deixa um pouco fora da vida das pessoas que amamos. Por mais que elas não queiram, por mais que a gente não queira. E não é por mal, é simplesmente normal, porque a vida acontece. Mas isso dói.

Por isso eu não julgo mais quem passa anos fora e depois decide voltar para o seu país. Não é fácil perder todas essas coisas, não é fácil ver a vida dos outros seguir sem a gente e a nossa sem eles.

Eu costumava ser muito julgadora quando ainda estava no Brasil. Julgava quem passava um tempo fora e voltava sem ter aprendido inglês, julgava quem morava fora, parecia estar se dando super bem e, do nada, voltava, eu era um poço de julgamentos. Até que chegou a minha vez de sentir na pele todas as coisas que um imigrante sente e eu não sei nem explicar.

Daqui a dois meses serão seis anos desde a minha maior mudança de vida, que foi vir para o Canadá em 2018. Dentro dessa mudança cabem muitas outras, como: sair da casa dos meus pais, casar, aprender uma nova língua, ter 4834 trabalhos diferentes e aleatórios, entrar para o serviço público, fazer novos amigos, viajar... São tantas coisas que rolaram nesses últimos anos. E, apesar de hoje em dia eu ter certeza de que quero continuar aqui, de eu estar criando as minhas raízes e fazendo deste lugar o meu lar, é impossível eu não pensar em como estão as coisas lá. Impossível não pensar no "e se eu tivesse ficado/voltado", impossível não sentir saudades das pessoas, dos lugares, das comidas, dos cheiros.

Como eu disse, estou fazendo deste lugar onde estou o meu lar. Mas isso não quer dizer que lá também não seja, afinal, lar é um sentimento, não um lugar.

E eu tenho a impressão de que, uma vez que você sai do seu país, jamais vai se sentir completo de novo. Estando aqui, você vai sentir falta de lá. Estando lá, você vai sentir falta daqui.

Mas eu não fico triste em pensar que vou me sentir incompleta para sempre; pelo contrário, eu me sinto feliz e grata por essa oportunidade de conhecer esse sentimento de incompletude. Pois, ao mesmo tempo que eu não sou completa e sinto falta de alguns pedaços, eu tenho em mim muitos outros pedaços de diferentes lugares, pessoas e experiências, justamente por me permitir viver nessa incompletude.

Um beijo,

Luísa

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